Mostrando postagens com marcador comando. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador comando. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 1 de março de 2012

As relações de poder

- que o poder não é algo que se adquira, arrebate ou compartilhe, algo que se guarde ou deixe escapar; o poder se exerce a partir de inúmeros pontos e em meio a relações desiguais e móveis;

- que as relações de poder não se encontram em posição de exterioridade com respeito a outros tipos de relações (processos econômicos, relações de conhecimentos, relações sexuais), mas lhes são imanentes; são os efeitos imediatos das partilhas, desigualdades e desequilíbrios que se produzem nas mesmas e, reciprocamente, são as condições internas destas diferenciações; as relações de poder não estão em posição de superestrutura, com um simples papel de proibição ou de recondução; possuem, lá onde atuam, um papel diretamente produtor;

- que o poder vem de baixo; isto é, não há, no princípio das relações de poder, e como matriz geral, uma oposição binária e global entre os dominadores e os dominados, dualidade que repercuta de alto a baixo e sobre grupos cada vez mais restritos até as profundezas do corpo social. Deve-se, ao contrário, supor que as correlações de força múltiplas que se formam e atuam nos aparelhos de produção, nas famílias, nos grupos restritos e instituições, servem de suporte a amplos efeitos de clivagem que atravessam o conjunto do corpo social. Estes formam, então, uma linha de força geral que atravessa os afrontamentos locais e os liga entre si; evidentemente, em troca, procedem as redistribuições, alinhamentos, homogeneizações, arranjos de série, convergências desses afrontamentos locais. As grandes dominações são efeitos hegemônicos continuamente sustentados pela intensidade de todos estes afrontamentos;

- que as relações de poder são, ao mesmo tempo, intencionais e não subjetivas. Se, de fato, são inteligíveis, não é porque sejam efeito, em termos de causalidade, de uma outra instância que as explique, mas porque atravessadas de fora a fora por um cálculo: não há poder que se exerça sem uma série de miras e objetivos. Mas isso não quer dizer que resulte da escolha ou da decisão de um sujeito, individualmente; não busquemos a equipe que preside sua racionalidade; nem a casta que governa, nem os grupos que controlam os aparelhos do Estado, nem aqueles que tomam as decisões econômicas mais importantes, gerem o conjunto da rede de poderes que funciona em uma sociedade (e a faz funcionar); a racionalidade do poder é a das táticas muitas vezes bem explícitas no nível limitado em que se inscrevem -- cinismo local do poder -- que, encadeando-se entre si, invocando-se e se propagando, encontrando em outra parte apoio e condição, esboçam finalmente dispositivos de conjunto: lá, a lógica ainda é perfeitamente clara, as miras decifráveis e, contudo, acontece não haver mais ninguém para tê-las concebido e poucos para formulá-las: caráter implícito das grandes estratégias anônimas, quase mudas, que coordenam táticas loquazes, cujos "inventores" ou responsáveis quase nunca são hipócritas;

- que lá onde há poder há resistência e, no entanto (ou melhor, por isso mesmo), esta nunca se encontra em posição de exterioridade em relação ao poder. Deve-se afirmar que estamos necessariamente "no" poder, que dele não se "escapa", que não existe, relativamente a ele, exterior absoluto, por estarmos inelutavelmente submetidos à lei? Ou que, sendo a história ardil da razão, o poder seria o ardil da história -- aquele que sempre ganha? Isso equivaleria a desconhecer o caráter estritamente relacional das correlações de poder. Elas não podem existir senão em função de uma multiplicidade de pontos de resistência que representam, nas relações de poder, o papel do adversário, de alvo, de apoio, de saliência que permite a preensão. Esses pontos de resistência eståo presentes em toda a rede de poder. Mas isso não quer dizer que sejam apenas subproduto das mesmas, sua marca em negativo, formando, por oposição à dominação essencial, um reverso inteiramente passivo, fadado à infinita derrota. As resistências não se reduzem a uns poucos princípios heterogêneos; mas não é por isso que sejam ilusão, ou promessa necessariamente desrespeitada. Elas são o outro termo nas relações de poder; inscrevem-se nestas relações como o interlocutor irredutível. Também são, portanto, distribuídas de modo irregular: os pontos, os nós, os focos de resistência disseminam-se com mais ou menos densidade no tempo e no espaço, às vezes provocando o levante de grupos ou indivíduos de maneira definitiva, inflamando certos pontos do corpo, certos momentos da vida, certos tipos de comportamento. Grandes rupturas radicais, divisões binárias e maciças? Às vezes. É mais comum, entretanto, serem pontos de resistência móveis e transitórios, que introduzem na sociedade clivagens que se deslocam, rompem unidades e suscitam reagrupamentos, percorrem os próprios indivíduos, recortando-os e os remodelando, traçando neles, em seus corpos e almas, regiões irredutíveis. Da mesma forma que a rede das relações de poder acaba formando um tecido espesso que atravessa os aparelhos e as instituições, sem se localizar exatamente neles, também a pulverização dos pontos de resistência atravessa as estratificações sociais e as unidades individuais. E é certamente a codificação estratégica desses pontos de resistência que torna possível uma revolução, um pouco à maneira do estado que repousa sobre a integração institucional das relações de poder.

(Michel Foucault)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Diálogo da peça: A procura de emprego- Michel Vinaver

(Wallace: Diretor de recursos humanos da CIVA/ Fage: Desempregado/ possível candidato a CIVA)

Wallace: A sua mulher o acompanha?

Fage: Raramente ela esquia um pouquinho não muito

Wallace: Eu não faço muito esqui de pistas mas passeios

Fage: Nós também fazemos verdadeiras façanhas passar a noite nos refúgios dias inteiros na total ah eu o levaria com prazer conheço trilhas que poucos conhecem

Wallace: Descobri no ano passado alguns recantos quem sabe não teremos a oportunidade mas para o senhor é uma verdadeira paixão

Fage: Quando se leva uma vida como a minha

Wallace: Acelerada

Fage: O esqui é uma ruptura com tudo o que é confuso e mesquinho é se libertar da gravidade voar penetrar-se no desconhecido controlamos todos os músculos há uma espécie de harmonia entre a imensidão que nos envolve e o interior do corpo e é a minha filha com ela nos esquis somos unidos formamos uma dupla célebre em Courchevel ah o Fage e a filha dele

Wallace: A que hora costuma acordar?

Fage: Cedo estou de pé entre cinco e seis

Wallace: O que faz entre o momento que se levanta e o momento em que sai para o escritório?

Fage: Desculpe mas não estou entendendo

Wallace: Sou eu que me desculpo se a minha pergunta não foi clara

Fage: Tomo um banho

Wallace: Muito bom quente?

Fage: Morno debaixo do chuveiro recapitulo tudo o que vou ter que fazer durante o dia

Wallace: Fica muito tempo debaixo do chuveiro?

Fage:Estou esquecendo na verdade antes de tomar banho

Wallace: Ah

Fage: Claro faço ginástica começo pela saudação ao sol é um movimento de ioga muito simples que permite desabrochar uma maneira de tomar o impulso do dia

Wallace: Antes de se barbear?

Fage: Não consigo fazer a barba antes de minha xícara de café

Wallace: O senhor pratica ioga?

Fage: Encontrei esse movimento num programa de TV achei curioso experimentei

Wallace: Estávamos no banho

Fage: Desculpe no banho muitas vezes eu descubro a solução de meus problemas as decisões irrompem chego a esquecer o tempo isso até que um escarcéu na porta me traga de volta e é a minha filha Nathalie querendo usar o banheiro antes de ir à escola

Wallace: Se esse Mulawa quiser casar com a sua filha?

Fage: Nathalie tem dezesseis anos e aliás ela não quer saber de casamento nem de aborto.

Wallace: E o senhor?

Fage: Tem filhos o senhor?

Wallace: Se o pai fosse branco

Fage: E talvez pense que eu sou racista?

Wallace: É interessante no seu caso essa passividade assim como se deixou reduzir a pó na empresa do Bergognan

Fage: Como?

Wallace: Eles lhe pediram para baixar as calças e depois para andar de quatro com  a bunda empinada e foi o que o senhor fez

Fage: Como?

Wallace: Sou eu quem lhe pergunto não foi por covardia congênita até pode se dizer que o senhor tem uma personalidade corajosa foi a necessidade de se sentir protegido o senhor tem alguma coisa infantil

Fage: Eu lhe asseguro que fiquei aliviado quando acabou

Wallace: Exatamente deixou que eles fizessem o que o senhor sabia que devia fazer mas não ousava fazer  o senhor se aliviou como bem disse

Fage: Esses rapazes que recrutei formei com eles eu tinha uma responsabilidade

Wallace: E o senhor tenta encontrar na sua noção de dever um álibi para a sua covardia o que aliás duplica a covardia

Fage: Senhor eu tenho um outro encontro

Wallace: Sente-se

Fage: Engula suas palavras

Wallace: Vamos quieto

Fage: Você também cala a sua boca

Wallace: Bem estou anotando suas diferentes reações capacidade de aguentar golpes controle sobre si arroubo de dignidade



segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Referências coreográficas

Pensando para além do corpo clássico do cavalo. Pensando em deslocamento nos quatro apoios,manipulação, dominação,ascensão e queda, idas ao chão(desmonte,desfalecer) e recuperação de eixo vertical.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Quem não faz poeira come poeira.


(Fragmentos desorganizados do livro de André Ranschburg: Histórias de um homem de marketing que faz dinheiro e sucesso fabricando jeans.)

O captalismo é um jogo. “Meta” não é objetivo do capitalismo. Foi do comunismo. Faz poeira quem vai na frente. Quem vem depois, faça a poeira que fizer, come poeira dos que puxam a corrida. Qualquer corrida.


                       ______Moral da história_____

O preço do comando correto é a plena liberdade.

A luta é entre fracos e fortes. Entre os que podem e os outros.

Ser bom é enfrentar brinde com brinde.

Sem mapa-múndi , globalização vira jogo de labirinto.

Para escolher um sócio, basta escolher o parceiro certo, no tempo certo.

Confiar em terceiros é desconfiar de segundos.

Filosofia participativa só vale para quem acredita nela.

Garantia só dá quem pode.

Marketing não é matemática. Por vezes 2 mais 2 = 5, ruim é quando 2 mais 2 dá 3.

Quem vai com muita sede ao pote, se afoga.

Um acidente pode valer tanto quanto a grande vitória.

Usar de sentimentalismo nos negócios é virtude.

O que é melhor?  Guardar um segredo ou avisar ao mundo de que o segredo é seu?

Todo campeonato tem vencedores e vencidos.

O capitalismo é o grande espetáculo dos negócios.

Uma peça só vale quando tem nome.