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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Para Nat.


“A conexão atenta consigo mesmo, com o outro e com o meio, transforma o que seria uma sucessão linear de eventos em ações-reações imediatas. A temporalidade do fluxo desconstrói as etapas do processo expressivo, digo, dilui o minúsculo espaço de tempo entre pensar e agir, entre estímulo e resposta, entre sentir e emitir. Quando em fluxo, o ator não expressa um estado, ele vibra em um estado” (p.322)


Nat, isso é o que eu gostaria de ter formulado para lhe dizer no último ensaio. Imersa na composição, em fluxo de resposta ao tempo, ao Fred e ao espaço, você não precisou criar um estado, mas vibrou em um estado único. O outro idioma, corroborou para isso em seu distanciamento. Quer dizer, por estar livre da incumbência de nos fazer compreender o que você dizia, conseguiu nos aproximar daquilo que poderia ser...da tentativa de dizer, da abertura, da sugestão de um posicionamento. Comunicou.

NA VERDADE É PARA TODOS OS ATORES.

FABIÃO, Eleonora. Corpo Cênico, Estado Cênico. IN: Revista Contrapontos Vol. 10, No3. Santa Catarina: Revista do PPG em Educação da UNIVALI, 2010.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Coreografia composição Gunnar/Fred

Apresentação:


Sequência 1 -
(Fred sozinho - entra Gunnar)

A - Início/até abaixar.


B - Até o coice.

(Entra Rafa/ Nat)
C - Transições e abraços.
(Sai Gunnar em cima do Fred)


Sequência 2 -
(Texto Nat - "Avenca" até  "Você tá acompanhando meu raciocínio?")
A - Até coice.


(Entra Gunnar e Fred)
B - Transições e rolamentos.
(Diálogo "Avenca" Fred/ Gunnar, até "compreende?")


C - Namorados.
( Texto deixa Nat/Gunnar - "é claro")


( Entra Lila, Bel, Caca, Aline)
D - Prainha. ( espasmos / quique de bunda 4x/ posições relaxamentos)



quarta-feira, 14 de março de 2012

Rapidinho.

Estou, realmente, muito feliz e entusiasmado com os trabalhos apresentados hoje!
Continuemos assim!

YES!

quarta-feira, 7 de março de 2012

Lindalva.

- então é isso mesmo, né ? Você vai e eu fico aqui. (pausa) Sozinha.
- você fica aqui porque você quer, Lindalva. Você sabe que por mim, você iria comigo.
- e aí eu largo o meu trabalho, é isso ? Deixo pra traz a casinha que eu suei tanto pra construir, é isso mesmo ? Vou pro estrangeiro passar frio, ficar perdida naquela língua toda enrolada...
- (interrompe) Eu te ensino, minha pequena ! Eu posso ser o seu professor particular. Você fazendo biquinho vai ficar mais linda ainda.
- eu demorei 50 anos pra aprender a falar português direito e agora você me vem com essa ? Não tenho mais idade nem cabeça prá isso, meu amor. (pausa) Tô velha, sou burra, quase analfabeta...
- não fala assim, Lindalva. Eu gosto de você assim do jeitinho que você é. Olha prá mim. (pausa) Confia em mim! Vamos juntos!
- prá você é fácil. Sua família tá lá, seus amigos tão lá... lá também é o seu mundo. Mas e eu ? Quando você sair pra trabalhar eu vou ficar sozinha ? Se eu gritar por socorro será que vão entender que eu preciso é de ajuda ? Eu vou ter que precisar de você pra tudo ? E a minha liberdade ? O pagode e a cerveja aqui debaixo ? Eu não tenho dinheiro guardado. Tudo que eu tenho tá aqui: tá nessa cama que você dorme todos os dias, tá em cada tijolo dessa casa.
- não se preocupe com isso, amor. Já disse: eu vou continuar te ajudando.
- ajudar é diferente de sustentar, de bancar. Eu não quero depender de você prá tudo. Se eu precisar comprar um pão, como é que eu faço ? Eu espero pelas suas moedas ?
- lindalva, não existe isso de ‘meu’ e ‘seu’. Eu tô propondo que tudo seja ‘nosso’.
- é muito fácil pra você propor isso quando o ‘nosso’ é quase tudo ‘seu’.
- você só tá pensando no dinheiro. E o nosso amor, não é ‘nosso’ ?
- (pausa) O nosso amor é o que a gente mais tem de ‘nosso’. Mas se eu estiver no estrangeiro, eu sem saber falar uma única palavra, sem conhecer ninguém além de você, batendo queixo de tanto frio, e se a gente brigar e você não quiser olhar mais na minha cara ? Aí eu faço o que da vida ? Eu vou estar cheia de amor em mim mas e daí ? Amor não enche barriga nem esquenta do frio, meu bem. Aí se você de repente decidir me trocar por uma mais nova eu faço o que ? Dentro de mim só vai ter amor. (pausa). Lá no estrangeiro se eu vender amor será que alguém compra ?

Eu parei para pensar nisso aqui.

A ideia de usar a "dancinha" do Rafa como prólogo do espetáculo me atravessou hoje no percurso de casa para o ensaio. Experimentar a ideia foi bastante interessante... Eu diria fascinante. Escrevo para tentar compreender melhor o que ela inaugura e também para dividir com vocês os meus pensamentos. A "dancinha" enquanto abertura se manifesta como algo que eu poderia classificar como nível zero. Ou seja, ela abre espaço para que qualquer tipo de informação ou material sejam apresentados depois.  Ela é o drama neutro que abre as portas para novos e interligados dramas sujos. Ela namora, critica, brinca com o corpo e com o espaço na suavidade de um deboche que é físico. Ela esboça, com crueldade e um ótimo uso do corpo e do tempo, as qualidades: duração, repetição, esforço, precisão e refinamento. Ela, ao mesmo tempo que recebe, também distancia o espectador da obra, faz com que ele se interrogue sobre o que virá depois. Faz com que ele se pergunte, assim como eu venho me perguntando: sobre o que e sobre quem este espetáculo fala? Então, leio a "dancinha" como um lugar poético para a fuga cotidiana, para o desbravamento do corpo em seu limite e suor, para a fuga das relações cansadas e da estranheza que é ser um ser casal; como uma espécie de espelho social, uma viagem do micro ao macro, o caminho das pedras a ser percorrido por todos os corpos que, logo em seguida, serão apresentados. Leio como quem lê um romance longo, faz uma viagem para Lisboa ou toma um bom café da manhã. Como quando preparamos o espectador para despertar, para acordar o corpo, abrir os olhos e atentar a escuta para os mínimos detalhes. Os olhos que se movem, a boca que esboça palavras ou números, as mãos que dedilham, os cotovelos que brincam  no ar de ir e voltar. Gosto da "dancinha" em razão de sua pureza urbana e nada bucólica. Por ora penso em treino de dança, bailarinos em movimento que tentam atingir a perfeição na execução de um gesto banal. Como é difícil presentar o cotidiano, a ação básica de mover-se no dia a dia. Depois penso no corpo-máquina, no homem-bomba, no cansaço dos operários na repetição diária do trabalho mal pago. Aí penso nas relações de poder, na flexibilização delas, nas lacunas que deixam abertas e que precisamos ocupar. Penso ainda nas verdadeiras empresas que são os relacionamentos afetivos, na manutenção do bem-amado, do bem-querer. É bom o bem-casado? Você trouxe o que eu te pedi - ele pergunta e ela dança. Rio alto. Na verdade, tenho medo de rir. Tem graça ver alguém cansado? Me questiono. Questiono a obra e seu lugar. Depois dela, da "dancinha" alguém entra e, de costas, canta uma música. Essa música então ressignifica tudo. Ou melhor, ela tenta. Tenta por ordem no recinto, trazer sentido e razão para todo aquele alvoroço contido que, inicialmente, foi apresentado. A música embala o Rafa que, inconscientemente, micro-muda a qualidade de seus movimentos. Agora eu não sei mais quem dança... É ele quem comanda a música ou por ela é comandado? Quem ali, no auge daquela dor, canta para quem? Quem teria coragem de denunciar: FOCO, SUPORTE. Não sei. Este não-saber me alegra, prossigo vivo, questionando o espaço, tudo e todos. Todos entram. Aí, acabou chorare, mas não ficou tudo lindo. É pior, é grave. São mais pessoas, mais gente, mais povo, mais corpos e mais cabeças. Tudo Dói, Caetano batizou uma canção com este nome e, em seguida, lhe deu de presente para a Gal.

sábado, 3 de março de 2012

O ruivo

Quando eles abriram a porta houve um pequeno empurra empurra. Ele foi jogado sobre mim, ele se desculpou, nós começamos a conversar. Quase uma hora e meia esperando naquela espécie de depósito cheirando a camembert, até que um ruivo com cara de nada veio me atender. Ele sumia no meio de uma frase pra reaparecer com um novo monte de papel dizendo:"Pode continuar." Ele me interrompia o tempo todo dizendo:"Tá bom." Ele corrigia relatórios enquanto eu me esforçava para que prestasse atenção em mim. Uma mulher entrou com um pano na mão, pensei que fosse a faxineira, ela não se apresentou é claro. Ela me perguntou se eu havia sido despedido diversas vezes de empregos anteriores. Eu lhe perguntei se ela tinha tido o cuidado de consultar a minha ficha. Ela me respondeu que não se devia acreditar em tudo que as pessoas escrevem. Ela me olhou sorrindo e acrescentou:"Nem no que dizem." O ruivo queria saber quais eram os meus conhecimentos em matéria de embalagem. Recomeçar do zero. Quando éramos répteis abandonamos os pântanos.