
terça-feira, 8 de maio de 2012
Vontade de dividir o email da Ro com vocês!
domingo, 29 de abril de 2012
a dor do não dito | LETÍCIA G.R.D.
Redescobrir os caminhos do texto é encontrar-se com o lugar do indizível. Sabe-se que esse inominável é de alta periculosidade. Caminha de olhos fechados no meio da avenida. Nauseia-se então na palavra seguinte. A dor do inatingível lhe alcança todos os dias. Como explicar para um lugar cinza que as danças se concluem muito vagarosamente em sua mente? Mas de repente estalam! Tornam-se nítidas e intensas. Como se sempre estivessem ali só esperando para serem nomeadas. Não é possível pausar o tempo, desfazer angústias e desmembrar as dores. Tudo persiste na intensidade caótica do pensamento. Como é mesmo o nome dessa palavra? Expressar. Cada vez é mais difícil expressar. Deslocar o pensamento para o papel. Revirar a garganta na procura do substantivo. Chacoalhar o cérebro na busca de uma definição. É! Desse modo. Assim. E assim continua o texto. Um texto que não vai atingir seu lugar. O topo do morro é inacessível à linguagem. Só o pensamento e a idéia podem chegar até lá. Quem sabe o corpo em movimento transmita melhor a mensagem. O ato de escrever cristaliza o movimento do pensamento. Impede que os devaneios sejam compreendidos. Amarra a alma em um nó de gravata. Desfaz-se no horizonte. No outro dia retorna. Aperta. Afrouxa. Desespera os sentidos. Cala a alma. No outro instante grita. No entanto, nada expressa. Gira em círculos desatinados em busca da palavra. AHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!
ZG
http://osbonsnuncaserendem.blogspot.com.br/
quinta-feira, 5 de abril de 2012
DO DIA EM QUE VIREI UM BICHO
Samira Ávila, do Cia Espanca!:
Lembro do ensaio em que a Grace me deu quatro páginas de xerox do capítulo “A viagem” do livro “Perto de um coração selvagem”, da Clarice. Minha Mulher já sabia cair, mas tinha que aprender a se levantar. Eu tinha dificuldades de encontrar forças pra ela. Achava que ela não tinha mais motivos para seguir em frente, para repetir tudo. Aí eu li o texto da Clarice. Fiquei perturbada com a mulher do coração selvagem. Sempre gostei de cavalos. Queria que o grupo se chamasse “Grupo de Cavalos” e já havia decidido há muito tempo que quando eu tiver um cachorro ele vai se chamar “cavalo”. Já tive um cavalo também quando era pequena, mas acho que era mentira do meu pai. E, sim, Clarice: eu iria me arranjar sendo um bicho. Reli o texto.
“(…)eu serei forte como a alma de um animal e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas, não levemente sentidas, não cheia de vontades de humanidade, não o passado correndo o futuro! O que eu disser soará fatal e inteiro! Não haverá nenhum espaço dentro de mim para eu saber que existe o tempo, os homens, as dimensões, não haverá nenhum espaço dentro de mim para notar sequer que estarei criando instante por instante, não instante por instante: sempre fundido, porque então viverei, só então viverei, só então viverei maior que na infância, serei brutal e mal feita como uma pedra, serei leve e vaga como o que se sente e não se entende, me ultrapassarei em ondas, ah, Deus, e que tudo venha e caia sobre mim, até a incompreensão de mim mesma em certos momentos brancos porque basta me cumprir e então nada impedirá meu caminho até a morte-sem-medo, de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo”.
Escrevi muito urgentemente alguma coisa atrás de uma das folhas do xerox e fizemos uma improvisação da Cerimônia das Palmas. Era aquilo. A Mulher nunca ficou tão fraca, era extremamente cansativo tentar se salvar. E se levantar não significava ser forte.
“O que nela se elevava não era a coragem, ela era substância apenas, menos do que humana, como poderia ser herói e desejar vencer as coisas? Não era mulher, ela existia e o que havia dentro dela eram movimentos erguendo-a sempre em transição”.
terça-feira, 27 de março de 2012
Grilhões e serpentinas
Chaves perdidas, sem serem usadas
Vultos passam, quem deixa as marcas?
Estendo a mão para me agarrar em algo
Cartas e búzios indicam o caminho
Salto no abismo,
Uma corda no pé
Outra ao pescoço
Em queda
Desato os nós dos dedos
E com um passar de mão
As paredes desabam
Uma a uma
E vou-me ao fundo
E vou-me ao longe
E vou-me além.
(Omar Salomão)
sábado, 24 de março de 2012
Para Lila
mecanismos de relógio:
manejo a pinça
& cuidado,
patas de inseto: cílios
com pegadas;
pequeno, tudo parte
& corre risco, coisas
que se quebram.
& como tão
quebrados & partidos
não contamos
os resquícios, apegar-se
a todo vício de
viver:
o que sei o
que amo, frágeis
elos da cadeia, mí-
nimos, confortos
de uma ideia & tão
no entanto
humanas
coisas que se
quebram,
que não se sabem
ou se respeitam
pactos
como esses, micros-
cópicos, não
germina amor nem
nada bom
deriva disso, tão minús-
culo impreciso de-
licado
ajuste.
Dirceu Villa
domingo, 18 de março de 2012
sexo animal.
O Jardim do Nada - Conrad Detrez
sábado, 17 de março de 2012
Um monólogo
Infelizmente eu não sou tua Ofélia e você, tão pouco, é meu Hamlet. Essa história não merece o frio da Dinamarca. Merece o calor. Um clima tropical, agradável, cheio de flores e outras bobagens coloridas. Uma flor pode brotar de uma pedra, mas não de cubo de gelo. Eu, pelo menos, nunca vi. O importante é que no calor o cadáver apodrece mais rápido. Num instante, o cheiro fétido exala o mais puro fogo fátuo e então urge-se enterrar o defunto. Pô-lo debaixo da terra. Selá-lo de vez no ataúde, antes que a situação se torne incômoda e que a pessoa que um dia amamos e de quem sentiremos eternas saudades se torne um pedaço de esterco, uma carne pútrida, saindo ainda por cima, da obscenidade do corpo morto, fluídos pustulentos e uma orgia de moscas e formigas. É por isso, amor, espero que entenda, que eu quero um dia ensolarado, o sol lindo e pessoas indo à praia.... No frio isso não seria possível. Sabia que Shakespeare vivesse em algum país tropical ele nunca teria feito Romeu e Julieta? Sabia? Por que se Julieta tivesse tomado o veneno, no dia seguinte, seria enterrada viva, e a sua morte seria em vão, movida por um desespero idiota e precipitado, o golpe teatral seria pobre, não seria nem mesmo uma tragédia, seria mais uma fatalidade, tal qual aqueles acidentes de trânsitos, ou aqueles suicídios sem graça, coisa de jornal de qualquer maneira. O frio é bonito. Favorece o isolamento. Pensei em ir à Europa um dia desses. Você se lembra? Você disse que não: problemas de dinheiro. Talvez fosse o problema da vida a dois. Suportar-se demais em troca de um bem estar. Em troca de uma harmonia que nada mais é do que a resignação. A convivência é foda, é uma merda. Quem convive não vive. É aceitar como bem amado alguém que na verdade não passa de um inquilino na sua vida. Você nunca parou para pensar nisso? Deixa para lá. O amor não é belo, meu querido. É o que há de mais animalesco na alma. Amor é uma coisa que chega bem perto do canibalismo. E você sempre se despedia dizendo que me ama. Lembra? Se eu fosse uma pedra, você também falaria a mesma coisa, contanto que estivesse casado com ela. Tanto faz. Aquilo era práxis. Burocracia. Sabe por quê? Não? Por que todo mundo que fala ‘eu te amo’ quer ouvir ‘um eu também’. Isso é burocracia, meu bem, é o puro método. Aritmética! Essa é a palavra! Se tu és o amor da minha vida, eu também sou o amor da tua vida, o que quer dizer que se eu te amar você também vai me amar, justamente por que eu te amo,
terça-feira, 13 de março de 2012
Creme de alface
Caio Fernando Abreu
Eu parei para pensar nisso aqui # 2
segunda-feira, 12 de março de 2012
Sugestão de texto para o Rafa #2
Sugestão de texto para o Rafa
Segunda
Não achei a Távora mas vi o King Kong na
pracinha. Análise. Leu-se e comentou-se que o
regime não vai cair. Clímax alencariano das Duas
Vidas.
Terça
Parque Lage com Patinho. Yoga. Sopa chez avó.
Di do Glauber. Traduzi 5 p de masturbação até
encher o saco.
Quarta
Fingi que não era aniversário. Almoço em
família. Saidinhas à tarde com e sem Tutu. Não
me aclamaram no colégio como se esperava. Saí
deixando pistas com a psicóloga.
Quinta
Passei para os alunos redação com narrador
sarcástico. Último capítulo de Duas Vidas.
Encontro PQ na portaria e vamos ao chinês.
Conversa de cerca-lourenço, para inglês não ver.
Sexta
Bebericamos depois do filme polonês. Quarto
recendendo a chulé e sutiã. Guardados. Voltei no
aperto, mas não tão mole.
Sábado
Cartas de Paris. Disfarcei-me de nariz para
enganar PQ. Casas da Banha. Cheguei cedo,
parei em frente à banca das panelas.
Domingo
Lauto café à beira-mar. Mímicas no ônibus.
Emoção exagerada, demais, imotivada. Dildo
ligou, pobre. Darei bola? Anoto no diário
versinhos de Álvares de Azevedo. Eu morro, eu
morro, leviana sem dó, por que mentias. Meu
desejo? Era ser… Boiar (como um cadáver) na
existência! Mas como sou chorão, deixai que
gema. Penso em presentinhos, novos
desmentidos, novos ricos beijos, sonatilhas.
Continuo melada por dentro.
Ana Cristina César
quarta-feira, 7 de março de 2012
Para uma avenca partindo
segunda-feira, 5 de março de 2012
Para Gunnar 2
Este me parece mais centrado na questão.
Parece ser melhor.
http://professor.ucg.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/7541/material/ARTIGO%20DISFUN%C3%87%C3%83O%20DE%20M%C3%9ALTIPLOS%20%C3%93RG%C3%83OS.pdf
Para Bel.
As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia "Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas",Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59