domingo, 29 de abril de 2012

a dor do não dito | LETÍCIA G.R.D.


Redescobrir os caminhos do texto é encontrar-se com o lugar do indizível. Sabe-se que esse inominável é de alta periculosidade. Caminha de olhos fechados no meio da avenida. Nauseia-se então na palavra seguinte. A dor do inatingível lhe alcança todos os dias. Como explicar para um lugar cinza que as danças se concluem muito vagarosamente em sua mente? Mas de repente estalam! Tornam-se nítidas e intensas. Como se sempre estivessem ali só esperando para serem nomeadas. Não é possível pausar o tempo, desfazer angústias e desmembrar as dores. Tudo persiste na intensidade caótica do pensamento. Como é mesmo o nome dessa palavra? Expressar. Cada vez é mais difícil expressar. Deslocar o pensamento para o papel. Revirar a garganta na procura do substantivo. Chacoalhar o cérebro na busca de uma definição. É! Desse modo. Assim. E assim continua o texto. Um texto que não vai atingir seu lugar. O topo do morro é inacessível à linguagem. Só o pensamento e a idéia podem chegar até lá. Quem sabe o corpo em movimento transmita melhor a mensagem. O ato de escrever cristaliza o movimento do pensamento. Impede que os devaneios sejam compreendidos. Amarra a alma em um nó de gravata. Desfaz-se no horizonte. No outro dia retorna. Aperta. Afrouxa. Desespera os sentidos. Cala a alma. No outro instante grita. No entanto, nada expressa. Gira em círculos desatinados em busca da palavra. AHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!


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