sexta-feira, 6 de abril de 2012

antes tarde do que nunca.

MATERIAIS:

Casal – a dancinha do rafa que se encontra com a dancinha da Marília.
Corpo – o que não o é ?
Relação – corpos deitados um em cima do outro que se deslocam lateralmente.
Dinheiro – Fred e Gunnar nas duas partituras mecanizadas que se encontram e recomeçam.
Poder – gunnar em cima de Fred.
Desespero – anêmona.
Abandono – o olhar que traça um horizonte e se perde no horizonte.
Solidão – as corridas (desencontradas) em círculos. Todos na própria trajetória circular que ora se esbarra ora não. Cada um no seu mundinho circular.
Ausência – o olhar perdido da cacá.
Competição – Fred e Cacá no câmera-caneta. Quem não tem mais nada para falar e vira bicho ?
Disputa - corpos que se estapeiam.
Quebra - imagem final da primeira composição Fred e Natália (pós-sexo ?).
Ascensão – o beijo.
Dominação – o touro.
Dor – Elefante branco: Marília andando com Bel nos ombros como se nada estivesse sobre si. Quanto mais natural for este deslocamento, maior a expressão da dor.
Saudade – Natália cantando e um prédio projetado caindo.
Fracasso – as falências e limites de nossos diferentes corpos em um mesmo material. Quando buscar a homogeneização\perfeição e quando afirmar a particularidade do fracasso ? Lilla rolamento trás ? Aline tentando subir na Lilla (Gunnar\Fred) ? Cacá não apenas sendo suporte mas suportando outro corpo ?
Exposição - o corpo exposto e desenhado de Natália na composição com Gunnar. Carne exposta.
Falência – todos os corpos que buscam o máximo da altura (nos quatro apoios) e depois chegam ao chão (aquecimento).
Carência – Fred amando o chão.
Vencedor – quem dá a banda.
Construção – árvores.
Obsessão – as cinco meninas, cada uma na sua própria qualidade, limpando o chão com diferentes partes do corpo.
Vazio - Fred andando sem tirar os pés do chão indo em direção ao nada.
Convívio - lilla e bel em uma mesma ação repetida, movimentos coordenados, sem se olharem.
Distância – uma mesa longa.
Acaso – as andadas na lateralidade. Ir junto, parar, voltar, correr, olhar, desistir. Continuar seguindo em frente.
Encontro - andada conjugada de Fred e Cacá nos 4 apoios.
Tátil – lavagem.

LINEAR:

Exposição
Dor
Desespero
Corpo
Vazio
Abandono
Ausência
Solidão
Carência
Perda
Fracasso
Quebra
Falência
Construção
Ascensão
Poder
Obsessão
Relação
Vencedor
Acaso
Encontro
Tátil
Convívio
Casal
Distância
Competição
Disputa
Dominação
Dinheiro
Saudade



NÃO-LINEAR:

Dor.
Desesperador.
Tudo dói.
Tudo que quebra dói ? Tudo dói quando quebra ?
Meu corpo quer doer porque sempre acreditei quando me diziam que remédio bom é remédio ruim. ‘É ruim mas é bom, Fred !’.

Sinto muita saudade daquela época em que falência e fracasso não eram palavras usadas pelas Tias na alfabetização. Meu dicionário particular era abarrotado de palavras bonitas.

Até hoje não sei o porquê da dificuldade mas nunca soube escrever a palavra perda. Pegava o ‘s’ com som de ‘z’ da ausência, o ‘c’ com som de ‘ss’ da carência e juntava tudo naquela palavra de cinco letras que não admitia nem ‘s’, nem ‘z’, nem ‘c’, nem ‘ss’. Aprendi já adulto que perda é palavra que já perdeu todos os excessos possíveis. Independente das reformas ortográficas, ninguém tem o poder de acrescentar letra alguma à palavra que se resume a seu mínimo. Perda não admite excessos.

Ouço freqüentemente de um sujeito que eu tenho medo do vazio entre as letras. Ele me diz que isso de botar letra onde não tem é medo da solidão e do abandono.

‘Você, por acaso, acredita haver muita distância entre este Fred de agora e o de antes, certo ? Mas não, não há distância. Há uma relação de encontro deste que se esfrega no chão e se contorce de dor batendo a cabeça e aquele de 20 anos atrás que escrevia perda com ‘ss’. Você tem medo do vazio entre as letras, Fred ! Tem medo deste vazio entre você e o outro. Na disputa com este vazio, você o domina através da dor. Eu, dançando.’

Este sujeito amigo me fez descobrir que eu sou um vencedor falido. A minha obsessão pela exposição depende da necessidade, independe de dinheiro. Tô competindo com minhas dores para construir um caminho que me leve à ascensão.

Ascensão me remete a um ponto de chegada. Me parece que se quer chegar ao alto mas sofre-se com medo de altura. Como um casal que quer fazer um filho sem a comunhão tátil dos corpos suados. Como um casal que opta pela manutenção da convivência doméstica. Casal este que em vez de fazer o uso polido e distante do garfo e da faca, porque não (como um cavalo cambaio) quebrar toda a imensa mesa que separa educadamente um do outro para, enfim, encontrar os corpos ?

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