Mostrando postagens com marcador espera. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador espera. Mostrar todas as postagens

sábado, 17 de março de 2012

Um diálogo

Resolvi dar uma olhada em emails meus antigos e me deparei com alguns contos e textos que recebia de um amigo que conheci quando fui para o Maranhão. Ele é escritor, mas nunca mais nos correspondemos. Ele escreve umas coisas bem interessantes, e achei que poderia ser legal colocar algumas aqui. O monólogo então...


"De que falavam os móveis?

Posto que cheguei agora, do que é que eles

falavam, hein?

Por que a condição para participar da conversa é entender o assunto, vocês não acham?

Você falava de quê?

Nada?

E você disse o quê?

Nada também?

E ele, não opinou sobre isso?

Opinou?

E o quê que ele disse?

Nada?

Agora comecei a pegar o fio do discurso, nunca que eu imaginaria que a cadeira reagiria dessa forma, vão me dizer que vocês ficaram calados?

Não disseram nada?

Pois era pra dizer! Se eu tivesse estado lá, eu falaria! Porque eu cansei de falar para vocês que não dizer nada é muito diferente de dizer nada, porra! Não se pode ficar calado, calado jamais! E o que vocês me dizem?

Nada? ... Que bom saber que vocês entenderam...

Ah... não se preocupe pelo fato de eu, antes de você chegar, estar falando com os móveis...

Sabe o que a gente tem de melhor a se fazer nestes tempos de vacas magras?

(Não deixando que Nikolai respondesse) Nada!

Pense bem, nada! Risos

Uma vez olhei na TV um Anão com o pau de 24cm, acredita? Gabava-se o troglodita, de forma até a fazer raiva, daquele bendito pau... O programa foi passando e enrolando, o anão petulante dizia: não existe um homem que tenha um pau maior do que meu, e blá,blá,blá... Até que, enfim, ele mostrou a rôla... (Ele faz com as mãos o comprimento do pênis do anão). Que coisa monstruosa! (Enfático) um senhor caralho, meu amigo! Um senhor caralho!

As pessoas, de imediato, fizeram um silêncio catatônico... Mas um silêncio... Da mesma forma com que se depara com uma obra de arte - tipo o Teto da Capela de Sistina, de Michelangelo - e se calam atônitas mediante a obra de arte estonteante... Não... Não que o caralho do anão fosse uma obra de arte, mas não deixava de ser obra de Deus... (Rindo) Convenhamos! (Pausa) Eu me pergunto se esses programas de TV seriam a verdadeira arte moderna, mas esqueça! Eu sempre me esqueço o que é a arte moderna...

Eu te flagrei fazendo nada no momento em que eu nada fazia, se o ‘fazer nada’ fosse inútil, o que seria da nossa prosa? Não há nada melhor do que estar aqui sentado ao seu lado neste laconismo que nos cerca, provendo apenas deste silêncio orgânico de batimentos cardíacos! Saiba que ser homem tem suas vantagens, uma delas é agir como um ruminante e não ser obrigado a comer capim... Diga-me, por que eu e você, sentados aqui, com a única preocupação de olhar pra esta janela, iríamos nos levantar, sair deste recinto e jogar uma pedra na vidraça?! Por que não podemos? É claro que nós podemos! Mas o que seria da prosa?

Pense na prosa, Nikolai!"

sábado, 3 de março de 2012

O ruivo

Quando eles abriram a porta houve um pequeno empurra empurra. Ele foi jogado sobre mim, ele se desculpou, nós começamos a conversar. Quase uma hora e meia esperando naquela espécie de depósito cheirando a camembert, até que um ruivo com cara de nada veio me atender. Ele sumia no meio de uma frase pra reaparecer com um novo monte de papel dizendo:"Pode continuar." Ele me interrompia o tempo todo dizendo:"Tá bom." Ele corrigia relatórios enquanto eu me esforçava para que prestasse atenção em mim. Uma mulher entrou com um pano na mão, pensei que fosse a faxineira, ela não se apresentou é claro. Ela me perguntou se eu havia sido despedido diversas vezes de empregos anteriores. Eu lhe perguntei se ela tinha tido o cuidado de consultar a minha ficha. Ela me respondeu que não se devia acreditar em tudo que as pessoas escrevem. Ela me olhou sorrindo e acrescentou:"Nem no que dizem." O ruivo queria saber quais eram os meus conhecimentos em matéria de embalagem. Recomeçar do zero. Quando éramos répteis abandonamos os pântanos.