quinta-feira, 31 de maio de 2012

Helmut Newton


Já que estamos falando de pulga...


o piolho


o piolho numa folha de papel é um ponto (ponto).
na cabeça é uma serra-elétrica.

a esteira é ergométrica e o piolho anda quando eu ando.
sinto falta dos piolhos da infância e corto o cabelo curto.

estou sempre em curto. Curto isso.
estes seres abjetos (objetos abjetos) têm que viver (interrogação)?

talvez seja um deles ou venha a ser já que não faço nada.
como uma empada e arroto Coca. Deus é um piolho na toca.


(Rodrigo de Souza Leão)

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Para refletir com Grotowski:

"Porque criatividade é antes de tudo descobrir o que não se conhece.  É este o motivo-chave por que são necessárias as companhias. Elas dão a possibilidade de renovar as descobertas artísticas" (p.227)

"Os ensaios não são apenas a preparação para a estreia do espetáculo, são para o ator um terreno em que descobrir a si mesmo, as suas capacidades, as possibilidades de ultrapassar os seus próprios limites" (p.229)

"O ator deve antes procurar libertar-se da dependência com relação ao espectador, se não quiser perder a sua própria criatividade" (p.234)


Da Companhia Teatral a Arte como Veículo - texto de Jerzy Grotowski em: FLASZEN, Ludwik e POLLASTRELLI, Carla (org.). O Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski 1959-19699. São Paulo: Fondazione Pontedera Teatro/Edições SESCSP/Perspectiva, 2007 [1989/1990]

Pedido de Casamento

http://www.cortissa.com.br/2012/05/o-pedido-de-casamento-mais-original-de.html

domingo, 27 de maio de 2012

Justo uma imagem | Denise Stutz e Felipe Ribeiro



"...Um gesto que se quer só um gesto, um movimento, um corpo. Uma cor, varias cores que querem uma imagem, uma cidade."

- Um café, por favor.


Ele pagou a conta com o cartão de débito.
A moça sorriu, ele disse obrigado.
Fomos embora.
Uma cena normal, nada cinematográfica.
Volta.

Ele pagou a conta com o cartão de débito.
A moça olhou para o lado enquanto ele digitava a senha.
A moça sorriu ele disse obrigado.
Fomos embora.
Uma cena normal, nada cinematográfica?
Esta olhadinha para o lado na hora em que você coloca a senha do cartão é sublime!
É um marco do nosso tempo.
Um movimento dos dias de hoje.
É um gesto tão importante quanto, sei lá, quanto alguma coisa que o homem das cavernas fazia.
Todo mundo tem a sua maneira particular de olhar para o lado para não ver a senha.
É um gesto muito pessoal e muito solitário.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

"Devir não é atingir uma forma (identificação, imitação, Mimésis), mas é encontrar a zona de vizinhança, de indiscernibilidade ou de indiferenciação, de maneira que já não nos podemos distinguir de uma mulher, de um animal ou de uma molécula: e que não são nem imprecisos nem gerais, mas imprevistos, não-preexistentes, tanto menos determinados numa forma quanto mais singularizados numa população’’.


DELEUZE, Gilles. A Literatura e a Vida.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

terça-feira, 22 de maio de 2012

Para refletir sobre # 2: para todos:


“Trata-se de tomar todos os códigos da cultura, todas as formas concretas da vida cotidiana, todas as obras do patrimônio mundial, e colocá-los em funcionamento. Aprender a usar as formas, como nos convidam os artistas que serão aqui abordados, é, em primeiro lugar, saber tomar posse delas e habitá-las” (p.14)

“Essa cultura do uso implica uma profunda transformação no estatuto da obra de arte. Ultrapassando seu papel tradicional como receptáculo da visão do artista, agora ela funciona como um agente ativo, uma distribuição, um enredo resumido, uma grade que dispõe de autonomia e materialidade em diversos graus, como uma forma que pode variar da simples ideia até a escultura ou o quadro” (p.17)

“De fato, a apropriação é a primeira fase da pós-produção: não se trata mais de fabricar um objeto, mas de escolher entre os objetos existentes e utilizar ou modificar o item escolhido segundo uma intenção específica” (p.22)

“... a arte, ao tentar romper a lógica do espetáculo, restitui-nos o mundo como experiência a ser vivida” (p.32)

“Assim a arte contemporânea apresenta-se como uma mesa de montagem alternativa que perturba, reorganiza ou insere as formas sociais em enredos originais. O artista desprograma para reprogramar, sugerindo que existem outros usos possíveis das técnicas e ferramentas à nossa disposição” (p.84)




BOURRIAUD, Nicolas. Pós-produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo. São Paulo: Martins Fontes: 2009.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Ansen Seale

texto que gostaria de dizer.

' Eu te encontro um dia por acaso e o que chama a atenção é que você é bem-humorado. Eu, que quando mais novo descobri a melancolia em mim e vi nisso um infinito de possibilidades de existência. Eu, que descobri a minha identidade na melancolia, que aos poucos fui transformando esta melancolia em retrato já pronto. Eu que vi uma beleza única em ser um menino introspectivo nas ruas da cidade que faz frio. Eu que acabei transformando esssa coisa preciosa que é ser de verdade para si mesmo, eu que transformei isto em verdade acabada, em cartão postal de mim mesmo, eu te encontrei um dia. Não. Não, não, não, não, não é isso que eu quero dizer. O que eu quero dizer.. é a especificidade do teu falo, a nivel de, de modo que, falo enquanto pau na minha boca. É. É, é, é, é isto mesmo que eu quero dizer, meus caros senhores: a nossa relação era como tomar coca-cola quando eu era criança. Eu enchia um copo, mexia a colher lá dentro até tirar todo o gás. Então eu dava um gole e dizia: 'é bom!'. Depois eu dava outro gole e dizia: 'é ruim!'. Eu te encontrei a pouco tempo e pensei: ele é o grande amor da minha vida. Eu te encontrei a pouco tempo e pensei: que pessoa desnecessária. Eu te encontrei ontem. Você tá muito bonito. Uma bichinha muito bonita ! Nossa relação era como cheirar pó. Eu nunca fui de cheirar pó mas eu sei que bate uma mega deprê no dia seguinte. Aí você quer mais prá ver se passa. Aí você quer mais. Aí você quer mais. Quando vê se passaram dez anos. Qual teu nome mesmo ? Você ficou tão mais gostoso depois que a gente se separou, sabia ? Você ficou mais maduro. Você ficou mais independente. Você ficou mais pescoço grosso de cabeça raspada. Me lembro que, eu não sei se você se lembra, mas eu me lembro que eu quebrei o ventiladorzinho na parede. Eu esmurrei ele na parede muitas muitas vezes até conseguir quebrar duas pás. De noite, nós tomamos um banho gelado e deitamos molhados na cama. Era verão. Tava muito quente. '

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Para refletir sobre: para todos:

“O sujeito radicante apresenta-se, assim,como uma construção, uma montagem: e, em outras palavras, uma obra, nascida de uma negociação infinita” (p.54)

“Isso pode signifcar também o traçado de uma errância calculada...” (p.55)

“A errância, na função de princípio formal de composição, remete a uma concepção do espaço-tempo que se inscreve contra a linearidade e, ao mesmo tempo, contra a planeza” (p.101)


“Para designar a nova figura do artista, forjei o termo semionauta: o criador de percursos dentro de uma paisagem de signos. Habitantes de um mundo fragmentado, no qual os objetos e as formas saem do leito de sua cultura orginal e vão se disseminar no espaço global, eles ou elas erram em busca de conexões a ser estabelecidas. Indígenas de um território sem limites a priori, encontram-se na posição do caçador coletor de outrora, do nômade que produz seu universo percorrendo incansavelmente o espaço” (p.102)

“...a obra de arte não é mais um objeto “terminal”, e sim um mero instante em uma cadeia, o ponto de acolchoamento que amarra, com maior ou menos firmeza, os diferentes episódios de uma trajetória.” (p.106)

“A forma-trajeto defini-se primeiramente pelo excesso de informações, que obriga o espectador a entrar em certa dinâmica e construir um percurso pessoal” (p.117)

“A forma-trajeto, mesmo que expresse uma trajetória, põe em crise a linearidade ao injetar tempo no espaço e espaço no tempo” (p.122)

“Lógica das conexões: nessas obras, cada elemento utilizado vale por sua capacidade de modificar a forma do outro” (p.138)


Bourriaud, Nicolas. Radicante, por uma estética da globalização. São Paulo: Martins Fontes, 2011.


Não é "contemporâneo", é Mário de Andrade ("Prefácio Interessantíssimo" - A Paulicéia Desvairada)


"Está fundado o Desvairismo.
Este prefácio, apesar de interessante, inútel.
Alguns dados. Nem todos. Sem conclusões. Para quem me aceita são inúteis ambos. Os curiosos terão o prazer em descobrir minhas conclusões, confrontando obra e dados. Para que me rejeita trabalho perdido explicar o que, antes de ler, já não aceitou.
Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só para corrigir, como para justificar o que escrevi. Daí a razão deste Prefácio Interessantíssimo.
Aliás muito difícil nesta prosa saber onde termina a blague, onde principia a seriedade. Nem eu sei. E desculpem-me por estar tão atrasado dos movimentos artísticos atuais. Sou passadista, confesso. Ninguém pode se libertar duma só vez das teorias-avós que bebeu; e o autor deste livro seria hipócrita si pretendesse representar orientação moderna que ainda não compreende bem.
Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contacto com o futurismo. Oswald de Andrade, chamando-me de futurista, errou. A culpa é minha. Sabia da existência do artigo e deixei que saísse. Tal foi o escândalo, que desejei a morte do mundo. Era vaidoso. Quis sair da obscuridade. Hoje tenho orgulho. Não me pesaria reentrar na obscuridade. Pensei que se discutiram minhas idéias (que nem são minhas): discutiram minhas intenções. Já agora não me calo. Tanto ridicularizaram meu silêncio como esta grita. Andarei a vida de braços no ar, como indiferente de Watteau.
"Alguns leitores ao lerem estas frases (poesia citada) não compreenderam logo. Creio mesmo que é impossível compreender inteiramente à primeira leitura pensamentos assim esquematizados sem uma certa prática. Nem é nisso que um poeta pode queixar-se dos seus leitores. No que estes se tornam condenáveis é em não pensar que um autor que assina não escreve asnidades pelo simples prazer de experimentar tinta; e que, sob essa extravagância aparente havia um sentido porventura interessantíssimo, que havia qualquer coisa por compreender." João Epstein. Há neste mundo um senhor chamado Zdislas Milner. Entretanto escreveu isto: "O fato duma obra se afastar de preceitos e regras aprendidas, não dá a medida do seu valor". Perdoe-me dar algum valor a meu livro. Não há pai que, sendo pai, abandone seu filho corcunda que se afoga, para salvar o lindo herdeiro do vizinho. A ama-de-leite do conto foi uma grandíssima cabotina desnaturada.

Todo escritor acredita na valia do que escreve. Si mostra é por vaidade. Si não mostra é por vaidade também.

Não fujo do ridículo. Tenho companheiros ilustres.

O ridículo é muitas vezes subjetivo. Independe do maior ou menor alvo de quem o sofre. Criamo-lo para vestir com ele quem fere nosso orgulho, ignorância, esterilidade.
 
Um pouco de teoria? 
Acredito que o lirismo, nascido no subconsciente, acrisolado num pensamento claro ou confuso, cria frases que são versos inteiros, sem prejuízo de medir tantas sílabas, com acentuação determinada. 
A inspiração é fugaz, violenta. Qualquer impecilho a perturba e mesmo emudece. Arte, que, somada a Lirismo, dá Poesia, não consiste em prejudicar a doida carreira do estado lírico para avisa-lo das pedras e cercas de arame do caminho. Deixe que tropece, caia e se fira. Arte é mondar mais tarde o poema de repetições fastientas, de sentimentalidades românticas, de pormenores inúteis ou inexpressivos. 
  
Que Arte não seja porém limpar versos de exageros coloridos. Exagero: símbolo sempre novo da vida como sonho. Por ele vida e sonho se irmanaram. E, consciente, não é defeito, mas meio legítimo de expressão. Minhas reivindicações? Liberdade. Uso dela; não abuso. Sei embricá-la nas minhas verdades filosóficas e religiosas, não convencionais como a Arte, são verdades. Tanto não abuso! Não pretendo obrigar ninguém a seguir-me. Costumo andar sozinho. 
Não se esqueça porém que outro virá destruir tudo isto que construí. Pronomes? Escrevo brasileiro. Si uso ortografia portuguesa é porque, não alterando o resultado, dá-me uma ortografia. 
Escrever arte moderna não significa jamais para mim representar a vida atual no que tem de exterior: automóveis, cinema, asfalto. Si estas palavras freqüentam-me o livro não é porque penso com elas escrever moderno, mas porque sendo meu livro moderno, elas têm nele sua razão de ser. 
  
Mas todo este prefácio, com todo a disparate das teorias que contém, não vale coisíssima nenhuma. Quando escrevi "Paulicéia Desvairada" não pensei em nada disto. Garanto porém que chorei, que cantei, que ri, que berrei... Eu vivo! 
  
Aliás versos não se escrevem para leitura de olhos mudos. Versos cantam-se, urram-se, choram-se Quem não souber cantar não leia Paisagem nº 1. Quem não souber urrar não leia Ode ao Burguês. Quem não souber rezar, não leia Religião. Desprezar: A Escalada. Sofre: Colloque Sentimental. Perdoar: a cantiga do berço, um dos solos de Minha Loucura, das Enfibraturas do Ipiranga. Não continuo. Repugna-me dar a chave de meu livro. Quem for como eu tem essa chave. 
E está acabada a escola poética "Desvairismo". 
Próximo livro fundarei outra. 
E não quero discípulos. Em arte: escola=imbecilidade de muitos para vaidade dum só. 
Poderia ter citado Gorch Fock. Evitava o Prefácio Interessantíssimo. "Toda canção de liberdade vem do cárcere"."


Olhar sobre a cidade

a minha imagem não foi apresentada, então, descrevo:

um homem está em cima de um tijolo.
um pedaço de arame farpado está amarrado em dois paus formando uma micro cerca neste homem.
ele tem um coração desses de camelô que pisca pendurado no peito.

No meio da sala de ensaio tem um globo de luz de festa, toca uma música triste.
O homem controla um carrinho de controle remoto.
O carrinho bate na parede e volta, bate e volta, bate e volta, bate e volta, bate e volta.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Cavalos Gunnar e Bel
Ambos puro-sangue inglês e divorciados.

'Faubourg Saint'; um dos curtas de 'Paris, Je t'aime'





"Escuta.

Às vezes a vida exige uma mudança.

Uma transição.

Como as estações.

Nossa primavera foi maravilhosa, mas o verão terminou e deixamos passar o nosso outono.

E agora, de repente, faz frio, tanto frio que tudo se congela.

Nosso amor dormiu e a neve o tomou de surpresa.

E se dormes na neve não sentes vir a morte.

Cuide-se

Adeus!"


"...Deixou Boston e se mudou para Paris. Um pequeno apartamento numa rua de Saint-Denis. Te mostrei meu bairro, meus bares, minha escola. Te apresentei aos meus amigos. Aos meus pais. Te escutei enquanto ensaiava. Tuas canções, tuas esperanças, teus desejos. Tua música. E você escutou a minha. Meu italiano, meu alemão, meu russo. Te emprestei meu walkman e você uma almofada. E um dia, me beijou. O tempo passou. O tempo voou. E tudo parecia tão fácil, tão simples. Livre. Tão novo e único. Fomos ao cinema. Fomos dançar. Fazer compras. Nós rimos. Você chorou. Nadamos, fumamos. Nos rasuramos. De vez em quando, você gritava. Sem razão. Às vezes com razão. Sim, às vezes com razão. Te acompanhei ao conservatório. Estudei para minhas provas. Escutei tuas canções, tuas esperanças, teus desejos. Escutei tua música. E você escutou a minha. Estávamos unidos. Tão unidos, cada vez mais unidos. Fomos ao cinema. Fomos nadar. Nós rimos juntos. Você gritava. Às vezes com razão. Às vezes sem razão. O tempo passou. O tempo voou. Te acompanhei ao conservatório. Estudei para minhas provas. Me escutaste falar em italiano, alemão, russo e francês. Estudei para minhas provas. Você gritava. Às vezes com razão. O tempo passou, sem razão. Você gritava. Sem razão. Estudei para minhas provas. Provas, provas... O tempo passou. Você gritava. Gritava, gritava... Eu fui ao cinema"

domingo, 13 de maio de 2012

tenho pensado sobre isso aqui.

'(...) No caso da composição individual em questão, o meu desejo mais potente era experimentar o texto aliado aos materiais corporais, porém se afastando do já muito conhecido caráter ‘sublime’ do movimento. Incomoda-me muito quando vejo um texto correndo atrás de um movimento. Como estreitar a relação entre partitura corporal e texto falado ? Como possibilitar que o movimento surja como manifestação natural das palavras decoradas ? E mais, como dizer tais palavras tendo o corpo todo como enunciador de um discurso e não apenas a boca ? Foi tentando responder estas perguntas que dei início ao processo de criação da minha composição. (...) Foi desta forma que fui alcançando meu objetivo de criar uma composição onde o movimento viesse como razão de um discurso falado. Minha vontade era tirar o movimento do pedestal, do primeiro plano, do foco e torná-lo um suporte, um complemento, uma (bela !) consequência. Queria que o espectador, imerso na teatralidade do exercício, pudesse perceber a presença do movimento de maneira menos expositiva. Creio ter conseguido alcançar o desejado lugar do entre onde qualidade textual e qualidade corporal se misturam numa relação simbiótica. Cabe dizer que vejo muita potência em apresentar, durante o espetáculo, o movimento com caráter sublime. Entretanto, vejo mais potência ainda se, depois de virtuosamente apresentado, pudermos reapresentá-lo de uma maneira mais banal, talvez suja, humanizada. Como humanizar o sublime ? Nós somos atores e estamos alargando nossas potências corporais. Daí a beleza de nos desafiarmos, ora ou outra, a atingir o sublime (sem dúvida uma dificuldade para todos nós). Porém não podemos nos esquecer que somos atores ! Com tantos meses de processo, já atingimos níveis jamais imaginados para nossos corpos, acho que agora podemos começar a refazer o caminho que levou cada um dos criadores a se matricular no curso de artes cênicas e não no de dança. Digo isto porque acho que além de belos corpos (já belos !) executando perfeitamente belos movimentos (já belos !) temos que notar também a presença de ótimos atores (que somos !). Fazendo a minha composição, me pareceu que é justamente tirando um pouco o caráter sublime dos movimentos que, nós atores, conseguimos descobrir outros lugares possíveis para a expressividade corporal e, mais, atingir uma teatralidade que (como ator !) julgo necessária. Neste sentido, realmente fico satisfeito com a minha composição pois investiguei se o mesmo material apresentado antes como movimento perfeitamente executado pode, logo depois, se apresentar (ainda se afirmando como movimento) de maneira menos formalizada e mais humanizada. Identifico dois momentos caros à nossa futura encenação. Primeiro, há apreciação do corpo quando se apresenta belamente um movimento e o espectador se vê diante da beleza daquela expressividade corporal. Depois, o espectador vê beleza ao notar que é possível atrelar outras camadas de inteligibilidade ao movimento já reconhecido, quando o mesmo material é apresentado com outras qualidades e a partir de outros pontos-de-vista. Qual é o meu ponto-de-vista em relação ao movimento partiturado ? O que eu faço dele uma vez que eu não sou obrigado a reproduzir em série ? De que forma eu reforço a minha identidade nos movimentos coletivos ? A composição é o espaço livre para tentar responder estas perguntas e é competência do ator encontrar a singularidade do próprio fazer corporal dentro do já matematizado e coreografado. É isso: me vi refém da idéia de fazer com que o movimento chegasse ao espectador de uma maneira menos explícita. O movimento e os materiais continuam presentes no trabalho, porém diluídos no estado de teatralidade sugerido pela minha composição. Neste momento, me vejo pensando o que seria teatralidade (teatralidade, não 'teatrinho'). Talvez o ator que sou me faça intuir que nesta palavra esteja o caminho próspero para nos afastarmos do hermético. Quanto mais ensaio Cavalos, mais sinto falta de uma teatralidade que comporte aqueles belos corpos e aqueles belos movimentos. Creio que encontrar esta teatralidade num espetáculo que poderia se resumir em ser apenas um espetáculo de dança, seja o maior objetivo de todos os criadores. A teatralidade muitas vezes escamoteia o movimento e tira dele o caráter de excepcional. Gosto disso ! Este caminho a ser descoberto de como realizar um movimento destituindo-o da mera expressividade em primeiro (e único!) plano, me parece ser mais da competência do ator que da do dançarino. Quando a gente dá um texto preocupado em alcançar o sublime de um material, a gente não alcança o espaço simbiótico que conjuga textovimento ou movimentexto. Acho que é este lugar do entre que falta um pouco. E isso está relacionado à teatralidade do ator que somos e não ao bailarino que, quem sabe um dia, poderemos vir a ser.'

sábado, 12 de maio de 2012

Revisitando meu treinamento de Vendas

A- alimente-se com atitudes vencedoras
P- pesquise o que motiva o seu cliente
O- ofereça uma demostração envolvente
N- neutralize as objeções
T- tome a iniciativa e feche a venda
E- estenda o seu relacionamento com o cliente

Como podem ver... método A PONTE...
Vinha sempre com....

ALIMENTE-SE COM ATITUDES VENCEDORAS

1- De manhã me levanto pra vencer
2- Sou movido a metas e objetivos
3- Não desperdiço tempo
4- Penso, logo vendo.
5- o medo não me domina
6- Nunca desisto
7- Acredito na força do entusiasmo
8- Aprendo alguma coisa todo dia.


Uma voz sem ninguém Sejam transparentes ou opacas, Modestas ou coloridas de imagens, Nossas palavras não terão mais sentido que Um sopro sem rosto ressoando Sobre as ruínas de um templo ou Num enorme campo deserto Desde sempre ignorado dos homens Assim, que deixe um nome ou permaneça Anônimo, que acrescente um termo à linguagem ou Se apague num suspiro, de todo modo, o poeta desaparece, traído por seu próprio murmúrio E nada fica depois dele, senão uma voz_ Sem ninguém.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Bruxaria da equipe de vídeo!!!



Imagem divulgada nesta quarta-feira (9) pelo Observatório de Dinâmica Solar (SDO, sigla em inglês), da Nasa, mostra a atividade recente do Sol. Pela movimentação das manchas na superfície, astrônomos acreditam que o Sol vai produzir tempestades muito fortes. 

As erupções devem afetar o campo magnético da Terra nos próximos dias. Os efeitos sentidos por aqui seriam a alteração no funcionamento de satélites e auroras bureais.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Björk - Oceania



o reflexo da luz na aplicação de pedras no rosto dela.
as inserções de movimentos de luz.
o clarão de algumas imagens.
este branco rico em reflexo e glória.

os pequenos seres vivos.
as purpurinas.
ou aquilo que eu chamei de purpurina.
um café e um amor.
quentes, por favor...

Processo colaborativo no Teatro

Vontade de dividir o email da Ro com vocês!


oi, Caio

Adorei você me ligar pra dividir a experiência.

Fiquei pensando sobre o que você disse no ensaio, algo como "a gente ficou careta". Então queria dizer que a coisa do texto não tem nada a ver com caretice ou com contemporaneidade. É que a gente não muda tudo de repente. No novo que a gente faz, sempre tem uma persistência do que já foi. Por isso é super normal que, ao mesmo tempo em que você investe em um campo novo, lida com os demais da mesma forma que fazia antes. É claro. Talvez agora esteja chegando o momento de conseguir vir e entender o que é isso que está sendo criado, que criatura é essa. Eu só posso perceber isso porque não estou lá todo o dia, tenho distanciamento, aí vejo o fragmento da obra como peça autonônoma, sem tanta memória de processo, sem apego. Talvez dê para, daqui a pouco, você conseguir ver o que a criatura nova está pedindo como verbo, sonoridade e sentido. É que você ainda está se mergulhado nos atores. Aderbal dizia isso sobre o trabalho do diretor - que há um tempo de se colar aos atores para criar e depois um tempo de se sentar na platéia como um espectador ideal, apreciar, entender e mexer. E aí talvez você consiga ver que os textos que fora dali parecem bons, quando ditos ali dentro se tornam outra coisa, porque são parte da criação e não tem mais autonomia. Mas, como dizem os americanos, tome seu tempo. É mais importante perceber a questão, cavoucar o problema, do que solucionar.

beijo!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

1. E eu me pus tantas vezes a cavar buracos em asfaltos, experimentando a dor do que não me cabe, a aspereza da minha busca lutando contra a paz do meu corpo, esse objeto areado ignorante de forças e vetores, a pedra erodida no trajeto desse teu jogo obsceno, cuspindo tantas vezes no que me era puro pó para que eu sentisse na volta à secura a rudeza de teu apego, e pudesse assim compreender ao menos rapidamente a tua didática.

2. Sinfonia triste, eu desenho, notas mal contornadas, eu desenho, há sete folhas coladas no espelho da sala de ensaio, há um violino colado entre meu pescoço e ombro, há panelas, há paletas, eu estou nu.

3. Meus alunos e seus pais, meus colegas de trabalho, amigos, ex-amantes, sexos, coquetéis.

4. Agora diz que já perdeu o fio da meada de onde se começa e me termina, o que me diz dessa última organização harmonizada de som e imagem o que me diz desse seu manifesto eu pareço um pouco alterado?

5. Mas como pode saber com tamanha certeza, seguir tão apressado, dobrando esquinas sem saber nomes de ruas, atravessando praças e usuários de crack, morfina, buscopans, velhinhas sentadas, velhinhos insones, crianças caindo de prédios, amigo, nem se quer te vejo no fim desse autorama cidadão, dessa corrida entre obstaculos, postos na minha frente tantas luzes e tantos letreiros sem que pra mim façam sentido ou história: por quê?
essa minha amiga Tati Chalhoub
Um presente da minha amiga Tati, por Charles Bukowski "GELO PARA AS ÁGUIAS Sigo lembrando dos cavalos sob o luar sigo lembrando de alimentar os cavalos açúcar pedras oblongas de açúcar mais parecendo gelo e suas cabeças são como cabeças de águias cabeças calvas que poderiam morder e não mordem. Os cavalos são mais reais que meu pai mais reais que Deus e poderiam ter pisado nos meus pés mas não pisaram poderiam ter feito coisas horríveis mas não fizeram. Eu tinha quase 5 anos mas ainda não consegui esquecer; ó meu deus eles eram fortes e bons as línguas vermelhas molhadas projetadas para fora de suas almas."

domingo, 6 de maio de 2012

Aretha Franklin - I Say a Little Prayer (HQ)

Então...
Eu queria para a minha composição uma música bem "paradiso", bem clichezão de final de filme de comédia romântica. O objetivo era fazer uma joke, um debochinho com aquele momento do strip; reforçando o contraste com o início da composição, com a figura masculina! (Estereótipos)
E tbm pq essa música é maravilhosa, né?!

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Eu parei para pensar nisso aqui # 5

Sobre a estrutura que estamos colando:

1) Sequência Fred, Gunnar, Rafa e Nat: Movimento urbano em alta. Imagens possíveis: avenidas, ruas, cruzamentos, viadutos, vias, ciclovias, curvas, esquinas, saídas e entradas. mão dupla, sinal de trânsito. aeroporto, rodoviária, porto. partidas e chegadas. "olha antes do ônibus partir eu...". 

as relações são rápidas. escorregadias. pequenas imagens. fragmentos de um fim. ou todo fim é um recomeço (?).

o que posso fazer para que você não vá embora?
existe outra saída possível?
aonde foi que rompemos as nossas baias? eu nem percebi...
eu deveria ter percebido?
o abismo que nos separa.
é meu?
é seu?
"e de quem é a culpa? hein? quem tem culpa?"
vocês.

A) Fred e Gunnar: o início de tudo. a exposição dessa relação. o tanto esse menino olha? o tempo passar para ele. e pra gente, passa? é sempre a mesma imagem? e para você Gunnar, que o observa, o tempo passa? um segundo ou toda uma história? O que se conta com os olhos e também o que não é preciso contar?

B) Fred, Gunnar, Rafa e Nat: me parece que a dor não era só deles. daqueles dois já mencionados. entram para ampliar a trama, atravessá-la, confundí-la. são passagens, são momentos, são flashes de imagens e de possíveis momentos vividos. ou inventados, quem sabe? eu dentro de vc, vc dentro de mim. ou quando vc me segurou naquele momento exato em que eu queria cair...são muitas as prováveis.

precisamos mais de: precisão, atenção, velocidade calculada, errância projetada no espaço. rigidez para encontrar o lugar da liberdade. 

C) Rafa e Nat: de repente um ônibus. esboço para um a possível história. uma relação. relação direta com a plateia. confusão. quem é ele? quem é ela? reflexo daqueles dois apresentados anteriormente? ele e ela são todos os outros. e sendo todos, são todo mundo. "é muita gente, muita".

precisamos: que a Nat encontre mais clareza no texto da avenca. que busque exercitá-lo para não balbuciar e não perder velocidade. é um texto grande, mas que carrega uma informação única. se ele não vem potente, o momento em que ele se quebra e retornamos ao movimento fica vazio, oco.

D) O somatório desses dois fragmentos resultam neste último. Fred volta com o texto e, agora, percebemos que este casal também é dotado da fala. links e hiperlinks livres e soltos. de quem é o seu passado? seu com certeza. e de mais quem? pequenos questionamentos, rolamentos no chão. uma breve disputa, um breve ringue de combate estilizado? 

precisamos: talvez, de mais malícia e força para esses rolamentos. entender melhor o espaço e tempo de entrada do Gunnar e da Nat para que ela e o Rafa n fiquem, espacialmente, prejudicados. Vamos ter paciência e fazer isso todos juntos? é um exercício matemático de: atenção e repetição.

E) Namorados. Talvez, dentro de tudo, ainda haja um momento para respirar. PORÉM, essa respiração não é descansada. Pelo contrário, ela é atenta. Como uma dar uma nova chance, um reencontro depois de um tempo. sabe? acho que todo mundo sabe. risos. 

precisamos: ajustar os espaços e o tempos. encontrar a simultaneidade e brutalidade que os dois casais possam executar juntos. falar sobre o peso dos corpos e entender melhor, mais uma vez, o funcionamento da força nos movimentos. de onde ela vem, para onde ela é projetada, quem e ajuda e como? acho que precisamos falar sobre isso de novo.

2) Sequência do jardim. Imagens: jardins, grama lisa, toalha de pic-nic, céu azul. balão colorido no ar, o moço que vende algodão doce e a velha insuportável que continua, desde o filme esqueceram de mim noventa mil, a dar milho para os pombos. vento bom, brisa doce e nova. som de dente. cachorro, gato, passarinho. harmonia. mas nem tanto. tem pipa, tem patins, bicicleta, patinete, até charrete tem. tem música no violão, o cara da poesia e o moço da gaita. tem gente velha e gente nova. tem de um tudo. E TEM O CORPO, imerso nesta totalidade quase que incapturável..e aqui estamos nós. nessa totalidade.

A) movimento de todos. sequência tá tudo bem + espasmos

precisamos: repassar a sequência para que ela possa estar bem clara e fresca no corpo de todos. é, realmente, necessário que todos compreendam a tênue passagem de qualidade entre as poses e os espasmos. poses: corpo confortável, leve, relaxado e quentinho. espasmos: corpo duro, bruto, pesado, tensionado e gelado. precisamos encontrar este contraponto no movimento. o corpo no espasmo quer sair do chão, curva-se para uma última tentativa que, no nosso caso, são três. o fato dos espasmos n serem coreografados não implica que vcs joguem uns com os outros. o seu espasmos não é um reflexo ou resposta a tentativa do outro. neste momento, só existe um objetivo: realizar três tentativas frustradas de tirar o corpo do chão. é mais rápido. mais latente. dolorido. pesado e bruto. marcar os queixos na finalização da movimentação é fundamental. breve imagem: mercado de cabeças. pessoas em liquidação.

B) Momento só das meninas em cena. Chiliquinhos. Sequência dos pés que trazem as mãos.

precisamos: abrir a escuta para perceber o movimento da pessoas que vem antes. descobrir o tempo de duração de cada levada de movimento. igualar a intensidade dos pés e das mãos. Lila, acho que vc é a pessoa que pode se encarregar disso. Meninas, vamos pegar com o a Lila o tempo e a qualidade deste movimento, ok? Ok.

C) Saída das meninas. Lila em cena. Texto.

precisamos: descoordenar o texto do corpo. cada um traz uma informação em separado. aqui quem liga é o espectador. o corpo é pose e o texto é espasmo, seguindo a mesma lógica de sugestões qualitativas dadas as palavras anteriormente. 

D) Aceno para rolamento. 

precisamos: compreender que "acenar" para quem está no chão é um gesto de gentileza. como quem diz: estou de volta, posso recuperar o lugar senhor? ainda é meu este canto, bela senhora? há algo de cordial neste corpo que se apresenta em pé para deitar-se por livre vontade. esse comentário serve também para a entrada das meninas no início desta sequência de número dois.

3) Nos acenos, bel retorna e sobra.

paro por aqui, pois acredito que precisamos compreender melhor essa colagem. ter a certeza da dramaturgia que ela apresenta.

é isso meus amores.

quando chegarem aqui, releiam este escrito.

beijocas.









Ballet & dance Black & White Netherlands Dance Theatre Choreograp...

Vários movimentos bacanas!**

quarta-feira, 2 de maio de 2012

The Weather Project




"Como habitantes, crescemos nos acostumando ao fato de o tempo ser mediado pelas cidades. Isso acontece de muitas maneiras, em vários níveis coletivos que variam das experiências hipermediadas (ou representacionais), como a previsão do tempo na televisão, às experiências mais diretas e tangíveis, como simplesmente se molhar ao andar na rua num dia chuvoso. O equilíbrio entre os dois extremos seria sentar dentro de casa e observar pela janela uma rua ensolarada ou chuvosa. A janela, como a fronteira entre o sujeito e o exterior, media a experiência dele com o tempo exterior. Eu acho que existe, muitas vezes, uma discrepância entre a experiência de ver e o conhecimento ou a expectativa sobre o que estamos vendo." (Olafur Eliasson)