segunda-feira, 7 de maio de 2012

1. E eu me pus tantas vezes a cavar buracos em asfaltos, experimentando a dor do que não me cabe, a aspereza da minha busca lutando contra a paz do meu corpo, esse objeto areado ignorante de forças e vetores, a pedra erodida no trajeto desse teu jogo obsceno, cuspindo tantas vezes no que me era puro pó para que eu sentisse na volta à secura a rudeza de teu apego, e pudesse assim compreender ao menos rapidamente a tua didática.

2. Sinfonia triste, eu desenho, notas mal contornadas, eu desenho, há sete folhas coladas no espelho da sala de ensaio, há um violino colado entre meu pescoço e ombro, há panelas, há paletas, eu estou nu.

3. Meus alunos e seus pais, meus colegas de trabalho, amigos, ex-amantes, sexos, coquetéis.

4. Agora diz que já perdeu o fio da meada de onde se começa e me termina, o que me diz dessa última organização harmonizada de som e imagem o que me diz desse seu manifesto eu pareço um pouco alterado?

5. Mas como pode saber com tamanha certeza, seguir tão apressado, dobrando esquinas sem saber nomes de ruas, atravessando praças e usuários de crack, morfina, buscopans, velhinhas sentadas, velhinhos insones, crianças caindo de prédios, amigo, nem se quer te vejo no fim desse autorama cidadão, dessa corrida entre obstaculos, postos na minha frente tantas luzes e tantos letreiros sem que pra mim façam sentido ou história: por quê?

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