quarta-feira, 11 de abril de 2012

Também andei pensando umas coisas...

A Aline de costas cantando é um ruído muito interessante. Ela está "fora de quadro", mas completamente presente. Um extra-campo que eu só tinha presenciado antes no cinema. Talvez todas essas pessoas que aparecem no espetáculo também estejam fora de quadro. Acho que dialoga muito com o texto do Rafa. Presenças desgovernadas. "Você disse algo que não entendi, mas lembro".

Pessoas falam continuamente, mas não se ouvem. Talvez as interjeições tenham um grande papel no texto. "Olha, (antes do ônibus partir...)"; "Por favor, não me interrompa!" Os imperativos também. Os atores esboçam uma ligação que não se completa. "Alô?" "Alô?" "Você está ai?" “Você está me ouvindo?” A fala abafada, pela fita crepe ou pelo jornal, também me interessa. Talvez o vídeo possa funcionar como mais um elemento que tenta estabelecer "contato". Que reforça a tentativa de comunicação. Já a campainha interrompe. Gosto disso.

Penso muito em uma projeção reprimida, desenquadrada. Recortes de uma história de não-ditos, de paixões recalcadas, de relações falidas. Pessoas que vivem “fora de quadro”. Na grande cidade. Sob a luz neon. OPEN 24H

As relações parecem transitar em corda-bamba, tão frágil é o equilíbrio. A qualquer momento algo vai romper, se perder, não ser compreendido. "Compreende?"

Fiquei pensando sobre tempo. Temporalidade. Estar. Não estar. Presente. Quanto tempo é muito tempo? "O relógio da cozinhou parou...Tá parado há dois anos." Como a gente mede o tempo? “Um cigarro e vamos” “Só mais um café”

Fred diz: "Eu to sem..." E lista uma séria de faltas, fala sobre o que não se tem. Não é sobre insatisfação, é outra coisa. Ainda não descobri.

Nati começa um riso em semi-descontrole. Fora de hora. Remete a desespero, a deboche. De qualquer forma, o riso distancia do momento anterior: a conversa na mesa com o Gunnar. Acabou. Perdeu. Ela já não está mais ali.

Quando a Marília subiu fazendo a árvore, Aline começou a cantar "quero ficar no seu corpo feito tatuagem". Desejo de permanência. De dar conta do tempo, se apropriar dele. Que talvez também implique em se apropriar do outro. Do espaço do outro. Do que existe entre um corpo e outro. Esse meio. Encontrar o outro?


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