Quatro anos depois, a família Nobel muda-se para São Petersburgo, na
Rússia, e monta uma pequena metalúrgica. Prospera, então, fabricando minas
submarinas, graças, sobretudo, à sociedade com um general influente e às
gigantescas encomendas recebidas durante a guerra da Criméia — 1854/1856.
Terminada a guerra, acabam as encomendas e os Nobel vão à
falência pela segunda vez. Alfred estava com 26 anos. Não
recebera educação formal, freqüentou apenas o primeiro ano do
primário numa escola paroquial, na sua Suécia natal. Mas, com o auxilio de excelentes professores particulares, estudando em
casa, tornou-se excepcionalmente bem-preparado. Falava fluentemente sueco,
russo, inglês, francês e alemão, sendo atraído pela literatura e pela filosofia.
Quando a situação financeira de seu pai era favorável, viajou pelo mundo durante
dois anos. Conheceu os Estados Unidos e, sobretudo, Paris, onde fez estágios em
diversos laboratórios de química. Interessou-se desde cedo por explosivos e, já
em 1863, requereu sua primeira patente importante: um detonador de percussão
conhecido como processo Nobel.
A patente foi obtida na Suécia, para onde parte da família voltara, na
tentativa de relançar os negócios em novas bases, depois da falência na Rússia.
Instalados na pequena localidade de Helensburgo, nas vizinhanças de Estocolmo,
Alfred, o irmão caçula Emil e o pai começaram a fabricar nitroglicerina. Essa substância, preparada pela primeira vez
em 1846 pelo italiano Ascanio Sobrero, tem uma fórmula aparentemente muito
simples: certa quantidade de glicerina adicionada a uma mistura de ácido nítrico
e ácido sulfúrico. Mas sua preparação é extremamente arriscada. Qualquer choque ou uma
alteração brusca de temperatura provocam violenta explosão.Foi assim que, em
1864, mal começara a produção dos Nobel, a fábrica foi pelos ares, matando Emil,
o irmão caçula, e quatro homens. Semanas mais tarde, o velho pai sofreu um
derrame do qual nunca se recuperou.
Alfred, no entanto, não se deixou abater. Conseguiu um sócio e voltou a
fabricar nitroglicerina. Os negócios prosperaram rapidamente.
Mudou-se para Hamburgo, de onde dirigia os negócios da firma enquanto prosseguia
suas pesquisas. Os riscos de acidentes continuaram elevados até 1867, quando teve a
idéia de misturar à nitroglicerina uma substância inerte, na esperança de evitar
explosões acidentais. Deu certo. A nova mistura, denominada dinamite, iria revolucionar a técnica da explosão de minas, a
construção de estradas e a sorte das guerras.
Além de trazer rios de dinheiro à empresa de
Alfred Nobel. Como se tudo isso não bastasse, a sorte também favorecia os
negócios de Ludovic e Robert, os dois irmãos que haviam
permanecido na Rússia depois da segunda falência familiar. Alfred, já multimilionário com
suas fábricas de dinamite,
tornou-se um dos primeiros magnatas do petróleo.
Mas nunca foi feliz. Sua vida sentimental, ao que tudo indica, permaneceu
um deserto. Em 1876, pôs num jornal austríaco um anúncio no qual “um senhor de
certa idade, rico e muito instruído, residente em Paris”, dizia procurar “mulher
experiente e de certa classe, que conheça línguas estrangeiras, para Ihe servir
de secretária e dama de companhia”. Respondeu a esse anúncio a condessa Bertha
Kinski von Chinic und Tettau, descendente de uma família arruinada da
aristocracia austríaca. Falava alemão, francês, inglês e italiano e, aos 33
anos, sua beleza era fora do comum. Mas não teve sorte. Uma semana depois do primeiro encontro, Alfred partiu
em viagem e a condessa fugiu para se casar com seu namorado.
Foi por influência de Bertha, pacifista convicta, que Nobel incluiu no seu
testamento um prêmio dedicado à paz, com o qual a própria condessa foi
agraciada, em 1905. Pessoalmente, ele não tinha muitas ilusões quanto a esse
tipo de iniciativa. Foi um dos primeiros a admitir a teoria do
equilíbrio do terror. Escreveu a Bertha:
“No dia em que exércitos inimigos possam aniquilar-se em um segundo, todas
as nações civilizadas — ao menos é de se esperar — evitarão a guerra e
desmobilizarão seus soldados. Por isso, minhas fábricas podem pôr termo à guerra
mais rapidamente que seus congressos pela paz”.
Alfred Nobel sofria de acessos lancinantes de dor de cabeça, que atribuía ao contato com
a nitroglicerina e, a partir dos 50 anos, de crises cada vez
mais freqüentes de angina do peito. Além disso, em 1891, viu-se expulso da
França, onde residira durante dezessete anos, acusado de espionagem industrial
em favor da Itália. Perde, também, um processo nos tribunais ingleses referente
a uma valiosíssima patente de um tipo de pólvora sem fumaça. É em San Remo que ele vem a falecer. Como sempre temera, morreu cercado
apenas por seus empregados, sem nenhum parente ou amigo, às 2 horas da madrugada
de 10 de dezembro de 1896. Um ano antes, assinara a terceira e última versão de
seu testamento, dispondo que os rendimentos dos 31 milhões de coroas suecas de
sua fortuna deveriam ser “distribuídos anualmente às pessoas
que mais benefícios houvessem prestado à Humanidade”.
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