sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A ÚLTIMA ENCARNAÇÃO DE FAUSTO

Segue um trechinho da peça ' A Última Encarnação de Fausto', de Renato Vianna.
A peça toda é muito incrível!!! Trata-se, obviamente, da última encarnação de Fausto. Uma dramaturgia que se aproxima do romance de Goethe, porém com novas questões; questões super atuais! Destaquei este pedaço pois tem mais a ver com nossa pesquisa:

Fausto:

Queres outra vez a minha alma?

Mefisto:

Sempre o mesmo ingênuo. A tua alma? Que é lá isso? Quem acredita em almas ainda hoje? Quero o teu dinheiro. Tu és rico. Reparte-o comigo.

Fausto:

Com que direito mo pedes?

Mefisto:

Com o direito que a tua sociedade se arroga de condenar os que roubam. Venho propor-te um negócio banal de compra e venda. Comércio legítimo! Troca de capitais, como convém a dois cavalheiros da nossa roda. Tu me dás metade da tua fortuna, que eu te darei uma fortuna inteira. Como vês, uso honestamente da linguagem do mais honesto industrial da praça quando propõe a sua mercadoria.

Fausto:

Abandona de vez os teus sortilégios. Que queres?

Mefisto:

Vender-te um ideal. Agora sou comerciante de ideais.

Fausto:

Antigamente eras mais nobre... Lutavas por um ideal!

Mefisto:

Antigamente!... Antigamente é uma palavra vã no tempo. Falemos do presente, que é a hora única da vida. Tudo o mais é hipótese. Como toda criação e toda criatura, eu também evoluí... Antigamente eu colecionava almas, porque as almas eram o bric-à-brac de antigamente. Era moda. Como tal, passou... É provável que volte ainda, porque a evolução é um círculo vicioso... Neste momento, porém, é mercadoria avariada, e uma alma não vale um marco no câmbio atual. Hoje, coleciono notas de banco e prefiro dólar. O dinheiro é a magia moderna. Uma carteira recheada, hoje, vale mais do que todos os caldeirões de Shakespeare, no quarto ato de Macbeth. Se ainda existisse o Olimpo e ainda existisse Júpiter, bastavam os bancos de Nova York para o depor do trono. O dinheiro é a majestade contemporânea dos domínios universais. Dispõe de tudo e tudo compra; homens e consciências, mulheres e virgindades. Dá golpes de estado na justiça e manda deportar o direito. Assim, eu, que sempre me considerei, segui a mutação do mundo, adaptando-me ao meio, como bom discípulo de Taine. Hoje sou como todo homem de juízo, um corretor, um intermediário, um agente, um profiteur, que é a última conquista nos postos avançados das especulações. E que julgas tu? O meu ideal é o do melhor estadista moderno: dinheiro, fortuna. Rico, com dinheiro nos bancos, um ou dois automóveis e algumas amantes casadas, estarei legalmente autorizado a corromper... Portanto, estarei no meu elemento de todos os tempos...espalhar pela terra aforas as irresistíveis seduções do mal.

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