sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A Última História de Werther - de Inês Leitão

Este texto foi retirado de um caderno de teatro português. Quando li, me veio à cabeça a composição da Bel com o Rafa...


"Eu tenho um homem, por necessidade, claro. Porque os homens só estão nas nossas vidas por necessidade. Tenho a certeza de que o odeio mas de vez em quando ponho-me a acreditar que gosto dele.
Ele diz que me ama. Que sem mim não vive. Eu sei que me ama porque me bate. Eu faço o mesmo, bato-lhe sempre que posso. Devemos bater nas pessoas que amamos. Fica escrito nas marcas que lhes deixamos no corpo. Relembram-nos no prazer e na dor.
Isto foi quando vínhamos do cinema. Quase me partiu o braço por achar que eu estava olhando muito para o rapaz da fila da frente. Expliquei que seria impossível ver o filme sem olhar para frente. Ele perguntou se eu estava de gozação com ele, me arrancou da cadeira e me levou aos gritos para o carro. Era um filme de artes marciais... Eu adoro o Bruce Lee... Foi o anormal que comprou os bilhetes.
Estavam 200 homens na plateia: como é que eu podia ver o filme sem olhar para eles? Filho da Puta!

Amanhã vamos outras vez... O filme ficou pela metada e eu gostaria de saber como acaba.
Namoro com um atrasado mental.
Até que é bom, não me sinto mal. As vezes brincamos de tapas.

Se todos os casais brincassem de tapa os casamentos durariam mais. Nisso até somos saudáveis.

O jogo é simples: batemos e explicamos o motivo. Eu lhe dei um tapa por ele ter cortado o cabelo sem me consultar (parece um bicho com aquele corte). Ele me deu um tapa porque emagreci. (ele me pesava de 7 em 7 dias... emagreci 132 gramas na última pesagem).

Dei mais um tapa nele por ter me chamado de cabra na frente de minha tia: ele não chorou, mas sei que doeu.

O terceiro tapa que levei me doeu tanto... Chamei-o de cabão de merda e ele disse que ia embora de casa. Entrei num choro compulsivo: ele me abraçou, pediu desculpas, ajoelhou-se, acabamos com a brincadeira e quando reparei estávamos nus. Eu dispo-me sempre com uma facilidade admirável."

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