quarta-feira, 21 de março de 2012

Núcleo Artérias | Fronteiras Móveis

(Texto daqui)

Para aproveitar um espetáculo de dança contemporânea, é preciso entrar no clima. Se a perturbação inicial falar mais alto, arrisca-se perder uma experiência da qual poderia tirar proveito para a “vida real”. As apresentações de Fronteiras Móveis em Curitiba, sábado e domingo, prometem transportar o espectador para um estado de reflexão sobre o medo nas cidades. Motivados pelo pensamento do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, de 85 anos, os paulistas do Núcleo Artérias trazem ao Teatro José Maria Santos um trabalho baseado na vulnerabilidade do corpo e na instabilidade das relações interpessoais.

Para traduzir isso para a dança, a coreógrafa Adriana Grechi usou a estrutura de um jogo na criação do espetáculo. Os bailarinos entram e saem de cena rapidamente, sozinhos ou em interações que sugerem a desconfiança das ruas e até o conflito.

Para Adriana, essa apreensão cotidiana modifica a maneira como nos movemos no dia a dia, obrigando-nos a prestar atenção a muitas coisas ao mesmo tempo. “Estamos sempre indo para um lugar e ao mesmo tempo olhando para o lado, para trás, em um constante estado de atenção”, explicou Ana à Gazeta do Povo.

Essa característica moderna vira no espetáculo de dança uma provocação, que tira proveito da grande proximidade com a plateia, tornando a obra interativa sem ser agressiva. E a trilha sonora, bem colocada, contribui para o estado de tensão.

Por fim, um elemento importante para essa exposição de nossas neuroses urbanas é a captação de vídeo ao vivo e a imediata projeção num telão. Esse recurso tem se repetido em espetáculos de dança, pelo jeito porque dá certo: ver closes dos rostos dos atores – com olhos que também dançam – contribui para a identificação com o trabalho que está sendo executado no palco.

As várias câmeras funcionam como circuitos internos de segurança, vigiando os artistas o tempo todo. “Todos viram caça e caçador”, explica Adriana.

Fronteiras Móveis faz parte da Trilogia Líquida, em que o núcleo de dança vem, há alguns anos, traduzindo o pensamento de Bauman para o palco. O título é inspirado em seu livro Medo Líquido, de 2008.

Naquele mesmo ano, o capítulo que agora chega repaginado a Curitiba recebeu o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) para criação em dança. Outras questões já abordadas pelo grupo em seus trabalhos são a incerteza, o consumismo e a espetacularização.

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